O SONHO DA TERRA É UM PESADELO!

Na escrita do tempo, três fatos de amplo espectro alem da notícia e da propagação dela na mídia, neste outubro de 2009. A inversão cronológica para melhor entendimento, pelos mais recentes: a derrubada do helicóptero da Polícia na guerra do tráfico, no Rio de Janeiro; a derrubada dos pés de laranjeiras na ocupação da Cutrale pelo MST, em São Paulo; e a indicação da sede das Olimpíadas, pela primeira vez em país da América do Sul. A cultura milenar do esporte, O Paraíso Olímpico - Rio 2016!

No aspecto histórico e cultural da sociedade brasileira, tais registros mais do que conseqüentes e contraditórios, são irreconciliáveis. Contrapondo a ausência do poder do Estado nas comunidades cariocas, impera o terror do crime organizado, cuja maior contingência pelo desordenamento urbano, concentração de renda, desemprego e a miséria social disseminada na favelização do Rio de Janeiro.

A cena Difere nas grandes cidades das motivações que fomentam e acirram um tratamento de guerrilha rural, apenas para desviar o foco verdadeiro motriz da violência no campo: a concentração da propriedade da terra, a especulação e a grilagem de terras pública. Onde terras de propriedade da União estão irregularmente ocupadas, inclusive por grandes grupos econômicos transnacionais. Do Sul da Bahia, Pará ou São Paulo, maus exemplos que acontecem aqui, ali e acolá. Derivando nas argumentações descabidas de faltar áreas para a promoção de assentamentos de trabalhadores rurais sem terra.

Mas assim nasceu a República.

E,“Parece haver uma continuidade geracional da guerra das elites contra o povo”, afirma o sociólogo, doutor em geografia humana e Professor, Juarez Duarte Bomfim. Ao fazer menção que a Guerra de Canudos é emblemática dentre as “históricas lutas sociais do trabalhador rural sem terra”.

O fenômeno de Canudos, o signo social, sua atualidade e contexto. “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história resistiu até o esgotamento” - a tragédia sertaneja do massacre perpetrado pelo Exército brasileiro contra o seu próprio povo.


O megabandido brasileiro Daniel Dantas, condenado a dez anos de prisão pela Justiça Federal, é descendente do Barão de Jeremoabo, seu tri-avô. O famigerado latifundiário foi o principal inimigo da comunidade mística de Canudos e – ótimo missivista – quem mais insuflou o Estado brasileiro contra aquele povo pobre, disseminando a mentira de que era um forte movimento de restauração monárquica organizado no interior da Bahia.

Foi a seu pedido que o governador Luiz Viana enviou uma força policial para chacinar Canudos, a qual foi desmantelada. Por falar em Luiz Viana, o seu homônimo herdeiro, Luiz Viana Filho, foi governador da Bahia no mais sangrento período da Ditadura Militar brasileira (1967-1971).

Naquela época e hoje!

Segundo Bomfim, “... as elites que massacraram o povo sertanejo continuam a guerrear contra o povo brasileiro, através dos seus herdeiros”. Continuam a combater Canudos em episódios como o assassinato de Chico Mendes; no desrespeito aos direitos indígenas. Os trabalhadores rurais são vítimas da violência. Nos últimos anos, já foram assassinados mais de 1,6 mil companheiros e companheiras, e apenas 80 assassinos e mandantes chegaram aos tribunais. São raros aqueles que tiveram alguma punição, reinando a impunidade, como no caso do Massacre de Eldorado de Carajás.

Ainda segundo a nota publicada pelo MST, “as famílias acampadas recorreram à ação na Cutrale como última alternativa para chamar a atenção da sociedade para o absurdo fato de que uma das maiores empresas da agricultura - que controla 30% de todo suco de laranja no mundo - se dedique a grilar terras. Já havíamos ocupado a área diversas vezes nos últimos 10 anos, e a população não tinha conhecimento desse crime cometido pela Cutrale”.

“Nós lamentamos muito quando acontecem desvios de conduta em ocupações, que não representam a linha do movimento. Em geral, eles têm acontecido por causa da infiltração dos inimigos da Reforma Agrária, seja dos latifundiários ou da polícia”.

“Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. “O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado” diz a nota.

“Há uma clara articulação entre os latifundiários, setores conservadores do Poder Judiciário, serviços de inteligência, parlamentares ruralistas e setores reacionários da imprensa brasileira para atacar o MST e a Reforma Agrária. Não admitem o direito dos pobres se organizarem e lutarem".

“Em períodos eleitorais, essas articulações ganham mais força política, como parte das táticas da direita para impedir as ações do governo a favor da Reforma Agrária e “enquadrar” as candidaturas dentro dos seus interesses de classe”, enfatizou a direção nacional do MST.

O resultado do Censo 2006, divulgado agora pelo IBGE, mostra que o Brasil é o campeão do mundo na modalidade de concentração da propriedade de terra. Pra se ter apenas uma idéia “menos de 15 mil latifundiários detém fazendas acima de 2,5 mil hectares e possuem 98 milhões de hectares. Cerca de 1% de todos os proprietários controla 46% das terras” ressalta a nota do MST.

Recentemente, coincidência ou não, pesquisa do ibope contratada pela Confederação Nacional da Agricultura, não reconhecida pelo governo, mostrou dados facilmente contraditos pelos resultados da produção da Agricultura Familiar, que correspondem a quase 65% da produtividade da safra nacional. Tal pesquisa mostra ainda índices que questionam o processo de assentamentos rurais contrários às afirmativas oficiais.

O governo de socialização que pressupõe promover a mudança das políticas voltadas ao exercício da participação popular e do controle social, tropeça em um dos seus paradigmas basilares.

Democratizar a propriedade terra, promover a Reforma Agrária! A Educação! A Dignidade!

Diminuir a pressão migratória aos grandes centros, evitar a favelização das famílias e fixar o trabalhador rural na sua terra própria.

Simples até como um sonho!

Canudos vive. Vive na esperança do povo pobre que não se rende. "Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história resistiu até o esgotamento, quando caíram seus últimos defensores, quando todos morreram. Eram apenas quatro: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados", assim reportou Euclides da Cunha - Os Sertões.

Homenagens: 112 anos da Guerra de Canudos; ao novelista, escritor e dramaturgo baiano, Alfredo Freitas DIAS GOMES, nasceu (19/10) em Salvador (BA).

PT. Saudações!